Conto: A manchete
- Margarete Bretone
- 19 de abr. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de mai. de 2021
Ela correu, curiosa, em direção aos gritos.
Qualquer outra pessoa iria para o outro lado, faria o caminho contrário, mas ela não podia. Não após ouvir seu nome ecoando pelas paredes, subindo ao teto e praticamente açoitando os ouvidos.
Chegou esbaforida, com os cabelos desgrenhados, os olhos arregalados e o peito ardendo pela corrida desenfreada, mas nada a preparou para lidar com aquele olhar. O de quem queria esgana-la com a força do pensamento.
Faltavam quinze minutos, tudo estava indo tão lindamente bem e ela nunca seria capaz de entender o que estava acontecendo ali.
A manchete de um jornal, a foto, e um homem literalmente espumando obstruíram sua visão.
- Quem fez isso? Quem destruiu meu trabalho?
Enrugou a testa, uniu as sobrancelhas e não foi capaz de produzir uma resposta. Não entendia as perguntas. Como entenderia? A manchete anunciava a beleza exposta naquela galeria, o talento do artista e...
Ele fazia uma careta engraçada, mas ela nunca poderia mencionar o quão hilária era aquela imagem.
- Quem colocou isso aqui? Querem me destruir?
Ela cerrou os olhos, observou a imagem, jogou o corpo de lado e viu.
Uma sacola de plástico, branca, de supermercado, estava ao lado da enorme escultura negra. Era um contraste e tanto.
Yin e Yang, talvez?
Pensou ao ver a peça, mas não teve coragem de perguntar quando viu pela primeira vez.
- Tá pensando que o meu trabalho é lixo?
Ela entendeu, olhou para o lado, para a mulher que cuidava da limpeza. O rosto tão vermelho que parecia prestes a explodir.
O que um pequeno deslize pode fazer com uma obra de arte?
Entre olhar a mulher, o saco plástico e o homem furioso, ela leu o subtítulo da manchete que era praticamente esfregada na cara.
“A gente chega a pensar que é uma sacolinha, mas é arte!”

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