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Conto: Adolfo, o fujão

  • Foto do escritor: Margarete Bretone
    Margarete Bretone
  • 10 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 27 de mai. de 2021

Ela passou a tarde gritando pelos cantos. Adolfo tinha sumido e nem se importado em voltar. Estava atrasada e a culpa era de um dito cujo que ela não queria mais ouvir o nome, mesmo querendo que ele já tivesse aparecido.

As caixas todas abandonadas na varanda da casa a aguardavam e ela respirou fundo, resignada. Poderia ter terminado um trabalho que estava entusiasmada para fazer, mas foi obrigada a postergar para procurar o... não daria o gostinho de repetir o nome dele, nem em pensamento.

Abriu as caixas e sentiu o ânimo a invadir novamente. Ela amava aquilo tudo. Retirou o conteúdo com cuidado, já sorrindo. Era cansativo, demandava tempo, mas ela não se incomodava.

Pegou a escada e começou o trabalho, com sorte terminaria antes do anoitecer para poder contemplar o espetáculo. Foi encaixando em cada prego estrategicamente colocado a intervalos iguais voltando a pensar no... dito cujo.

O vento fresco espalhou os cabelos, as luzes penduradas e as folhas das árvores e ela o ouviu se aproximando, mas o ignorou.

Depois de todo o trabalho, de ter subido e descido da escada inúmeras vezes, entrou pela porta da sala e parou em frente à mesa de centro, sobre ela uma sacola cheia de guloseimas. Como sempre, fuçou e encontrou um pirulito de morango e partiu para o ritual que sempre se repetia. Levou uma cadeira para o meio do quintal e gritou uma ordem.

As luzes acenderam todas de uma vez, transformando a escuridão e ouviu o farfalhar das penas, o peso sobre o ombro e um vulto verde pela visão periférica.

Ela o ignorou. Ele nem ligou.

O papagaio tentou puxar o brinco de pérola da orelha da mulher que apenas inclinou a cabeça sem tirar os olhos da casa.

Percebeu a pelagem clara no chão, sentiu o peso sobre os pés do cachorro cheio de mato preso nos pelos, com barro nas patas e também o ignorou. Era sempre assim, quando Adolfo fugia pela vizinhança o papagaio o acompanhava e nada nem ninguém fazia o pássaro voltar, nem mesmo a própria dona, que saíaa pela porta depois de ter acendido as luzes, e sempre a culpava.

Adolfo era um animal sem educação, que levava o pássaro para o “mal caminho”. Balançou o ombro obrigando-o a levantar voo. Agora, sim, o espetáculo estava completo com as luzes refletindo sobre as penas e tudo em seu devido lugar até que o cachorro correu, pulou e o papagaio desviou, de susto, fazendo graça, não sabia ao certo.

Certo foi o grito que deu ao ver o trabalho de final de tarde arruinado quando o pássaro se enroscou nos fios, se debateu e arrancou metade das luzes acesas.

- Adolfo!


 
 
 

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© 2018 por MARGARETE BRETONE

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