Conto: Ronco e rangidos
- Margarete Bretone
- 30 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de mai. de 2021

O dia estava se arrastando, como que ainda sonolento, como quem preferia estar na cama e ele já estava descendo pelo caminho de pedregulhos sentindo o ar frio da noite, observando as luzes da cidade ainda todas acesas. O sol estava com preguiça, isso era uma certeza.
Parou por instantes, enrugou o nariz cheio de sardas lembrando que ainda teria que ir até lá e voltar com o sol escaldante de verão castigando a pele.
Abriu o pequeno portão e ouviu uma pequena agitação, além do dia, do sol, até as galinhas estavam letárgicas, como se o dia nem tivesse chegado.
Cutucou aqui, cutucou ali e a cesta de vime foi enchendo, foi pesando com ovos que surrupiava dos ninhos e ele voltou pelo mesmo caminho parando vez ou outra vendo a cidade despertar com as luzes se apagando aos poucos.
Entrou na casa silenciosa, preparou café, esquentou o leite e bateu alguns ovos antes de esparramar sobre a frigideira. Ouviu um ruído aqui, um arrastar de pés ali e continuou com o trabalho. Os irmãos, um a um, foram chegando, os olhos inchados, os rostos sonolentos e encarou cada um deles.
Ouviu uma tosse rouca e correu para o quarto, o maior deles e parou em frente à cama. A mão foi direto até a testa da mulher que abriu os olhos e sorriu.
- Está com febre novamente.
A mãe estava quente e ele não teve tempo de mais nada. Correu até a cozinha, pegou a cesta repleta de ovos lamentando por ter tirado alguns de lá de dentro e partiu.
Sobre o assento da bicicleta antiga que rangia a cada pedalada pediu em silêncio que a venda rendesse o suficiente, que o remédio não fosse caro, que ele fosse rápido ignorando o ronco no estômago.
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