Conto: Sem voz
- Margarete Bretone
- 26 de fev. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 27 de mai. de 2021
Ajeitei o casaco. Balancei os ombros, as pernas, o corpo todo em uma tentativa de aquecer as entranhas. O frio persistiu, como que instalado no fundo do peito.
Tirar todos aqueles panos velhos que estavam emaranhados dentro de mim foi doloroso, como arrancar um dente sem anestesia.
Deveria me sentir mais leve, mais corajosa para enfrentar os leões que estavam prostrados atrás da porta esperando o momento de se refestelarem com minha carne ressequida, mas a realidade era que a voz que me dizia o que fazer estava estranhamente silenciosa.
Talvez ela também estivesse sentindo o frio, a falta do tecido que me envolvia o fígado, os rins.
Talvez ela simplesmente tivesse me abandonado.
Toquei a maçaneta, pronta sem estar, sem ser. Ouvi o rugido e deveria recuar, mas abri, centímetro a centímetro a brecha entre o batente e a liberdade.
A dor deveria me parar, mas não.
Estava na cova e eles... prestes a me devorar.

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